De Filha Comunista a Tradutora de Deus

Fui criada como uma leal comunista na antiga União Soviética. Meu pai era um oficial político comunista que serviu ao governo soviético na Romênia, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental e Cuba. Minha família era realmente "Vermelha". Apesar de ser difícil para outros entenderem, meu pai era uma boa pessoa. Ele era um pai bondoso e amável. Eu o amo muito e sou muito grata pelo seu cuidado para comigo.

Ambos os meus avôs morreram antes de eu nascer. Minhas avós eram cristãs ortodoxas russas. Meu pai as proibiu de falar sobre Jesus ou de orar. Mesmo assim, todas as vezes que elas me viam, diziam: "Valentina, não se esqueça de orar!"

Aquelas palavras nunca saíram da minha mente e durante toda minha vida eu orei. Nunca me ensinaram como orar e talvez não o fizesse "devidamente", mas eu orava. Nunca aprendi a confessar meus pecados ao Senhor, ou a agradecê-Lo pelo que fez por mim. Tudo que sabia sobre a oração era pedir coisas a Deus. Não fazia idéia do que era o arrependimento ou até mesmo o pecado. O conceito de pecado e salvação estava completamente ausente da Rússia moderna antes da perestroika. Mesmo assim, Deus respondeu a muitas de minhas orações. Ele sempre sabe onde estamos em nossa caminhada com Ele, e creio que é paciente o suficiente para nos compreender e nos responder, mesmo que não oremos "corretamente".

Meu primeiro contato com a Palavra de Deus

Logo depois da perestroika começar, Bíblias se tornaram disponíveis. Toda vez que entrava numa loja e via uma Bíblia à venda, queria comprá-la. Mas as Bíblias eram muito caras e toda vez dizia a mim mesma: "Vou comprá-la no próximo mês, quando receber o próximo cheque de pagamento."

Certo dia um grupo de ministros norte-americanos veio à escola onde eu lecionava inglês e trouxe publicações religiosas para nossos alunos. Por eu falar inglês, eles me convidaram para almoçar e deixaram alguns livros comigo também. Ao olhar os livros, ali estava -- um Novo Testamento em russo moderno. Não podia crer no que via. Minha alma transbordou de contentamento. Apressei-me para casa e o li todo em dois dias e duas noites. O que li me impressionou tanto que tive temperatura bem alta por dois dias. Eu não estava doente; era apenas minha emoção. Uma luz súbita eletrificou minha mente.

Eu sempre gostei de ler, especialmente obras clássicas. Em minha leitura eu buscava verdade, esperança, amor e significado. O regime soviético havia proibido religião, mas alguns escritores como Dostoyevsky -- meu escritor cristão favorito -- mencionavam ideais cristãos em seus livros. Eu aceitei todas essas idéias, mas isso não foi suficiente. Não me senti realizada até que li o Novo Testamento. A experiência foi extraordinária.

Meu contato com adventistas

Os evangelistas que deixaram o Novo Testamento comigo eram presbiterianos, mas o motorista do seu ônibus e o tradutor eram Adventistas do Sétimo Dia. Eles me levaram a outros adventistas em minha cidade natal, St. Petersburgo. Visitei a principal congregação adventista ali, e estudei com o Pr. A. I. Romanov por mais ou menos um ano (atualmente é o presidente da Associação Russa Noroeste da Igreja Adventista do Sétimo Dia). Fui batizada no dia 3 de maio de 1992.

Meu pai e minha mãe moram na cidade russa de Konigsburgo. Quando chamei meu pai e lhe falei sobre a Bíblia e sobre os estudos que estava recebendo, ele ficou muito irado. Disse-me: "Essas pessoas são agentes da CIA que querem destruir a Rússia! Eles são propagandistas. Não creia em uma só palavra!" Meu pai foi criado como ateu, e fora ensinado a vida toda que os Estados Unidos eram o inimigo sempre procurando maneiras de destruir a União Soviética.

No verão de 1993, John e Ione Brunt e Darold e Barbara Bigger, do Walla Walla College, vieram a St. Petersburgo com uma equipe de evangelistas para realizar reuniões. Por causa de meu conhecimento do inglês, me tornei intérprete deles. Com sua ajuda, levantamos uma nova igreja adventista em Pushkin -- aquela igreja é agora uma das minhas preferidas!

Traduzo e ajudo também os membros das equipes da Operação "Bearhug" que visitam a Rússia. A Operação "Bearhug", iniciada pela União Norte do Pacífico, ajuda a fazer contatos entre adventistas norte-americanos e russos. Equipes de alunos e ex-alunos do Walla Walla College passam um ano em St. Petersburgo lecionando inglês e Bíblia na Universidade de Transporte de St. Petersburgo. Eu sou o contato principal entre essas equipes ao professorado da Universidade.

Uma nova experiência

No verão de 1994, fui convidada aos Estados Unidos para visitar o Walla Walla College e várias igrejas adventistas na área. Pouco antes de sair chamei meu pai. Para minha surpresa e alegria, ele me disse que ele e minha mãe haviam começado a estudar a Bíblia em casa! Estou muito emocionada por saber que Deus está trabalhando na vida de meus familiares como trabalhou na minha.

Meu anfitrião no Walla Walla College foi Roland Blaich, diretor do Departamento de História e Filosofia e organizador local da Operação "Bearhug". Visitei salas de aula e falei em várias igrejas. A experiência me ajudou a melhorar meu inglês. Gostei muito de minha estada lá. Pude ver a diferença que a educação cristã faz na vida dos estudantes. Também me apresentei numa rede de televisão para contar minha experiência.

Depois viajei para o sul da Califórnia e falei na igreja da Loma Linda University. Por muito tempo tenho tido visão fraca. Encontrava dificuldade para ler -- e um tradutor tem que ser capaz de ler! Eu temia precisar cirurgia dos olhos. Mas em Loma Linda, uma equipe de especialistas de olhos preparou-me óculos que tornaram minha visão quase perfeita, sem cirurgia!

Deixei os Estados Unidos para voltar à minha terra natal e ao ensino, com o sonho de logo voltar a um lugar que proporcione liberdade e encoraje iniciativa e criatividade.

Agora sirvo voluntariamente como a tradutora principal para a Associação Russa Noroeste da Igreja Adventista do Sétimo Dia em St. Petersburgo e redondezas. Quando as pessoas de outros países ouvem que me tornei adventista em 1992, geralmente dizem: "Oh, você é uma adventista tão nova!" Mas na Rússia, sou considerada uma cristã "velha" e experiente. Noventa e cinco por cento dos membros adventistas na Rússia são cristãos novos. Quando as campanhas evangelísticas adventistas começaram na Rússia depois da perestroika, havia apenas 70 adventistas na grande St. Petersburgo (uma área urbana de quase 9 milhões). Agora contamos com 2.000 membros na Igreja.

A Rússia está agora passando por uma crise. Muitas fábricas e pequenos negócios foram à falência. O futuro parece sombrio. Há desemprego em toda parte. Em meio a tudo isso, a igreja deve fazer seu trabalho, e suas necessidades principais são prédios para igrejas e educação para nossos membros e pastores. A igreja russa necessita suas orações.

Kristin Bergman é aluna e escritora para relações com a mídia, em Walla Walla College, Estado de Washington, E.U.A.