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Mário Veloso: Diálogo com um poeta adventista do Chile Humberto M. Rasi
Sua jornada ao adventismo começou por acaso? Não, eu diria que foi por direção providencial. Enquanto freqüentava aquele externato adventista, ouvi de uma escola secundária e terciária adventista com internato. Visto que minha primeira experiência fora positiva, no ano seguinte mudei-me para o internato. Lá um grupo de amigos íntimos ajudou-me a compreender e apreciar o adventismo. Dois fatores me impressionaram. Primeiro, a coerência de meus amigos viviam o que professavam crer. Segundo, as crenças adventistas, particularmente a compreensão das profecias bíblicas. Achei ambos muito atraentes. Durante aquele primeiro ano no Colégio Adventista do Chile, aos 15 anos, fui batizado. Quando começou a escrever? Ao completar minha escola primária comecei a ler literatura, a escrever algumas poesias e a sonhar de me tornar escritor. Nada disse a ninguém; me parecia muito presunçoso. Minha primeira tentativa de escrever foi uma novela sobre uma pessoa que muda da cidade para um sítio e atravessa uma série de experiências chocantes ao procurar ajustar-se a um ambiente muito diferente. Eu refletia minha própria situação, porque também vivíamos numa cidade e visitávamos regularmente um sítio de meu pai. Completei esta experiência como escritor aos 14 anos. Recebeu qualquer encorajamento? Não realmente, mas eu tinha um exemplo. Um de meus professores, Altenor Guerrero, era poeta, e eu o admirava muito. Embora nunca lhe falasse de meus sonhos e de minhas tentivas de escrever, eu olhava para ele como uma pessoa ideal. Por que escreve poesia? Por duas razões. Primeira, porque ela me permite expressar-me livremente. Poesia não exige que trate de assuntos específicos, nem o restringe com regras constrangentes. Qualquer experiência ou impressão, passageira ou insignificante, pode levar a uma poesia. Segunda, a poesia me permite experimentar com a linguagem. Ao procurar comunicar-se, a poesia o obriga a explorar todo o gama de expressão, tentando achar o modo mais conciso e efetivo de comunicar um sentimento ou uma experiência. Em seus anos formativos como poeta, quem o influenciou mais? Para um menino crescendo no Chile naquela época, a influência de Gabriela Mistral era inevitável. Nascida no norte-centro do Chile, ela escrevia e publicava bastante. Mistral recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1945, a primeira entre os escritores latino-americanos. Mais tarde me familiarizei com as obras de outro poeta chileno, Pablo Neruda, que recebeu o Prêmio Nobel em 1971. Ao passo que a força de Mistral era no conteúdo, Neruda me ensinou que a expressão é igualmente importante na poesia. Vicente Garcia Huidobro, poeta chileno que reside na França, também mostrou-me a possibilidade de usar linguagem com liberdade total. Lia o senhor as poesias de outras culturas? Já estava na faculdade quando descobri Walt Whitman. Impressionou-me tremendamente sua habilidade de expressar-se como pessoa. Seu Song of Myself, mesmo em tradução, permite ao leitor ter contato com sua alma e experimentar a natureza com ele. Fui também impressionado por Letters to a Young Poet, pelo escritor alemão Reinar Maria Rilke, o que me levou a examinar sua poesia. Aprendi muito dele, e mesmo agora volto à sua poesia com prazer. Ezra Pound também me fascinou bastante. Reconheço que Pound era desequilibrado emocionalmente, mas seu uso da língua em todo seu alcance é admirável. Sempre que posso, procuro ler poesia na língua original. Estou agora lendo um poeta russo numa edição bilingüe, fazendo uso de meu conhecimento limitado da língua russa e comparando-a com a tradução. É fascinante ver como os pensamentos e sentimentos do poeta são comunicados em outra língua, e como a música da poesia se faz sentir na tradução. Que o leva a compor uma poesia? O impulso vem de experiência na vida. Um incidente específico pode nos impressionar de vários modos e pode também ser expresso de maneiras diferentes. Posso narrá-lo, analisá-lo ou comunicá-lo poeticamente. Freqüentemente esta experiência poética ressoa com minha compreensão religiosa. É por isto que considero Davi o poeta ideal, o que mais admiro. Como nenhum outro poeta, Davi era capaz de reunir a vida, a poesia e sua experiência de Deus numa única poesia nos Salmos. Sob quais circunstâncias geralmente escreve seus poemas? Usualmente quando estou viajando, esperando algum vôo ou trabalhando numa cidade longe de casa. A experiência de ver outra gente, de sentir um novo ambiente e de fazer contato com uma cultura diferente faz uma forte impressão em mim, e uma poesia começa a nascer. Como tem sido recebida sua poesia nos círculos literários do Chile? Para minha surpresa, bastante bem. Além de revistas positivas, recebi cartas favoráveis de leitores. A Sociedade de Escritores Chilenos me convidou para ser membro. Sempre que visito o Chile, a sociedade organiza uma reunião na qual leio algumas de minhas poesias e falo sobre a cena literária nos países que visitei. Atualmente, os editores da Imprensa Universitária do Chile estão avaliando o que poderia ser meu quinto livro de poesias publicado por eles. Sabem eles de suas convicções religiosas? Sim, e respeitam-nas. Há poucos meses falei com o crítico literário que ensina literatura na Universidade do Chile e que escreveu a introdução para o meu livro Una palabra (1992). Disse-me que depois de ler minhas poesias, sentiu que é impossível separar minha religião de minha poesia. Por favor, fale-nos da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile. Temos cerca de 80.000 membros numa população de 12 milhões. Embora nossa igreja seja numericamente pequena em comparação com a Igreja Católica Romana ou com a Igreja Pentecostal as duas maiores no Chile somos bem conhecidos e bem influentes. Nossa obra educacional é respeitada. Somos a única igreja protestante que opera uma universidade reconhecida pelo governo: Universidade Adventista do Chile, que oferece vários programas, inclusive um mestrado em saúde pública. O trabalho da ADRA é bem apreciado, particularmente seu serviço de socorro durante nossos terremotos freqüentes. Há fatos significativos em nossas relações com outros grupos religiosos no Chile? O mais notável é o número crescente de líderes pentecostais e membros que se unem à nossa igreja. Tendo descoberto que nossas doutrinas são bem fundadas nas Escrituras, bispos e pastores pentecostais estão pedindo que lhes ofereçamos seminários especiais. Muitos deles têm sido batizados, e os temos encorajado a continuar a pastorear suas congregações. Se a tendência atual continuar, o número de adventistas poderia dobrar no futuro próximo. O número de membros adventistas no mundo aproxima-se de nove milhões. O senhor tem viajado extensamente e é um observador agudo de tendências na igreja. Para onde vê a igreja adventista marchando ao nos aproximarmos do século XXI? O crescimento dramático do número de membros é um milagre. Com o crescimento vêm problemas. Um problema é a tensão crescente entre duas visões distintas para a Igreja Adventista: entre uma que é motivada politicamente e que busca poder e acomodação com o resto da sociedade, e outra que é motivada pela missão da igreja e é radicalmente devotada a seu cumprimento. Esta tensão entre compromisso e missão provavelmente vai crescer, mas ao nos aproximarmos do fim, as promessas de Deus não falharão. Como caracterizaria o senhor a atitude da juventude adventista para com a igreja? Há países nos quais os jovens adventistas
têm uma forte identificação com a igreja. Envolvem-se
profundamente em suas atividades internas e externas, freqüentemente
ocupando posições de liderança. No outro extremo,
há lugares nos quais se pode ver uma distância entre a juventude
e os líderes da igreja. E há posições intermediárias.
Jovens são sempre motivados por algo que é autêntico.
O desafio é como responder apropriadamente às necessidades
e expectativas da juventude adventista. Estou esperançoso, porque
sei que sob a influência do Espírito Santo, o idealismo e
devoção de nossa juventude continuarão a crescer
como uma força bem positiva para que a igreja cumpra sua missão.
Entrevista por Humberto M. Rasi. Humberto M. Rasi é diretor do Departamento de Educação da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia e editor-chefe de Diálogo. Leitores interessados podem escrever ao Dr. Mário Veloso no endereço editorial desta revista. |
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