Deus ama a cidade de tal maneira!

A Bíblia começa com um jardim e termina com uma cidade. Suas páginas estão cheias do amor e cuidado de Deus para com as pessoas em toda parte.

Considere o cuidado de Deus para com Sodoma, uma cidade mergulhada na impiedade. Abraão pleiteou com Deus sobre a sorte de Sodoma e seus habitantes. Deus revela que Ele não Se preocupa menos com sua sorte. Ele salvaria a cidade se houvesse dez justos nela. O estilo de vida coletivo daquela cidade demandava um julgamento inevitável sobre ela. E Deus envia anjos para advertir a cidade sobre o que poderia acontecer se seus habitantes não se arrependessem.

Deus enviou Jonas para advertir Nínive. A despeito da hesitação e timidez do evangelista, a cidade arrependeu-se e evitou o juízo divino.

Deus enviou jovens às escolas e aos escritórios governamentais de Babilônia para aprenderem sua cultura, mas não seu estilo de vida. Enviou visões a um imperador após outro, revelando às gerações vindouras os altos e baixos da História, culminando no triunfo do reino de Deus e de Sua soberania sobre toda tentativa humana de edificar grandes cidades e grandes reinos.

Deus levou Davi a escolher Jerusalém, uma cidade cananita com uma história de má fama, para ser a capital de Israel. Ele queria que Jerusalém fosse uma cidade-modelo, onde residisse a justiça, onde a justiça prevalecesse e cujo testemunho para o resto do mundo fosse o alvo permanente. Jerusalém traiu seu mandato, expulsou os profetas, crucificou o Filho — e, não obstante, o amor de Deus por ela era tão grande que a capital da Nova Terra é nomeada a Nova Jerusalém.

Todo o Antigo Testamento foi escrito em cidades da Mesopotâmia, Egito, Suméria, Nínive, Sidom, Tiro e Babilônia. O Novo Testamento não é diferente. Jesus evangelizou a Galiléia urbana, Decápolis, Tiro, Sidom, Fenícia, Jericó e Jerusalém. As missões de Paulo visaram às grandes cidades do império romano: Antioquia, Atenas, Corinto, Éfeso, Filipos, Tessalônica, Colossos, Roma e muitas outras. O Apocalipse de João descreve a grande controvérsia entre Deus e Satanás em termos urbanos, um conflito entre cidades.

Tal foi o amor de Deus para com as multidões desfalecendo em cidades durante os tempo bíblicos. Ele não Se preocupa menos com os milhões que moram nas grandes metrópoles de hoje.

A atração das cidades

Embora as cidades tenham tido sua atração desde que Caim construiu a primeira (Gênesis 4:17), só recentemente é que se tornaram grandes centros de população. Mesmo duzentos anos atrás, 97 por cento da população do mundo era rural. No começo do século, a despeito da crescente revolução industrial, a população urbana era de apenas 15 por cento. Mas hoje, ao nos aproximarmos do século 21, praticamente metade da população mora em cidades — em florestas de concreto, em anonimidade urbana, numa luta desesperada para trabalhar, comer e dormir, com muito pouca interação social ou espiritual.

O mundo hoje é em grande parte urbano: 3.450 cidades com mais de 100.000 habitantes, 330 cidades com mais de um milhão de habitantes, 45 metrópoles com mais de quatro milhões e 12 super-gigantes com mais de 10 milhões. Além disto, o crescimento urbano é o dobro do crescimento rural, graças à migração e elevado índice de natalidade. Uma cidade do tamanho de Seattle nasce, cada ano, dentro da Cidade do México.

Destas cidades, ao menos 235 desconhecem a Cristo. Não podemos ignorá-las como se nossa jornada cristã fosse uma super-estrada que deixasse de lado os grandes centros de população. São alvos primários para a missão cristã.

São alvos primários porque as cidades influem sobre o resto do país. Controlam a mídia, influenciam o governo, operam grandes centros educacionais, movimentam uma rede de indústria, comércio e transporte. Realmente, a vida rural tornou-se prisioneira da influência urbana.

Com tais tendências metropolitanas crescentes, a comissão de Jesus de ir, batizar e ensinar (Mateus 28:19) chega até nós com nova urgência. A Igreja Adventista do Sétimo Dia começou a assumir esta missão global seriamente.

Já está acontecendo

Seul. Kirk e Sherry ensinam inglês como segunda língua numa escola em Seul. É uma tarefa de tempo integral. Mas depois da escola partilham as boas novas de Deus com seus estudantes e respondem a perguntas que suas histórias em classe e seu estilo de vida despertam. Estão deixando uma marca numa cidade de 16 milhões e num país que é 66 por cento budista.

Calcutá. Sandy tinha pouco mais de vinte anos e estava enfadada. Ela queria ser cristã e queria aventura. Queria as duas coisas ao mesmo tempo. A igreja deveria significar mais do que sentar-se num banco e ouvir um monólogo cada semana. Onde estaria Deus operando e haveria aí um lugar para ela? Madre Tereza veio à sua mente de imediato.

Madre Tereza desafiou o mundo por seu amor pelos pobres e enfermos de Calcutá. Com excesso de população e crescendo cada dia, com uma das mais altas densidades populacionais no mundo, e onde a rua é o lar de milhares, a cidade oferece milhares de modos de servir. “Ache algo pequeno para fazer”, diz Madre Tereza, “e faça-o com amor”.

E foi isso que Sandy decidiu fazer. Ela descobriu a vontade e o espírito de amor para trazer um pouco de alegria aos pobres e sofredores de Calcutá. Algo pequeno, mas que divulga as boas novas de Deus.

Genebra. São quase todos jovens, e longe de casa. Estes são jovens adventistas cujo trabalho ou casamento os trouxe a essa cidade de João Calvino, e estão testemunhando com alegria e criatividade. Esta é a igreja adventista do sétimo dia em Genebra. Um grupo vibrante de jovens, reúnem-se todos os sábados para o culto, estudo e companheirismo, para se fortalecerem mutuamente em seu testemunho individual e coletivo de Jesus. O culto não é tradicional, mas é familiar. O estilo de liderança é igualitário e baseado em servir.

Há uma voz de devoção alegre e de interesse cristão numa cidade conhecida por seu comercialismo e burocracia internacional. Esses jovens não têm de estar aqui no sábado; querem aí estar.

Ajuda desejada

Para cada história que aquece o coração, há centenas que nos emocionam. Considere três situações urbanas angustiosas.

Pobreza. Os pobres em países em desenvolvimento vivem em condições absolutamente caóticas. Uma família inteira se comprime num quarto do tamanho de uma cama de casal. Vivem na maior sujeira, sem água corrente, respirando não ar, mas poluição. A água que bebem está longe de ser pura. As poucas verduras que compram estão contaminadas por tóxicos.

Qual é a solução? Apenas esfregar as mãos e condenar os culpados? Adotar bebês em massa? Ou a resposta é um envolvimento pessoal, uma missão de face a face que alivie o sofrimento humano e faça diferença na vida das pessoas ao nosso redor? Que tal manter um orfanato, construir uma escola, ensinar classes de alfabetização de adultos, limpar o ambiente, prover água potável e construir instalações sanitárias? Ser um cristão de verdade envolve isso e mais, a fim de transformar a situação demonstrando a natureza do reino de Deus.

Refugiados políticos. Num sábado à tarde, em Frankfurt, eu fazia um passeio. No topo de uma pequena colina, ouvi uma música estranha e selvagem. Não rock ou Nova Era, mas selvagem no sentido de alegria misturada com saudade. Na clareira à minha frente, vi cerca de 70 homens, usando calças largas, músicos que tocavam grandes tambores, flautas e instrumentos de corda, enquanto o grupo, de braços unidos, dançava à sua moda.

Lentamente aproximei-me do grupo e achei um que falava inglês. Logo descobri que eram refugiados curdos, do norte do Iraque. Esperavam começar nova vida em terra estrangeira.

Quem irá dançar com essa gente? Quem vai unir os braços e tentar o sapateado intrincado com os primeiros passos de amizade e entendimento? Quem vai se tornar um missionário “não residente” a favor desses curdos mudando-se para Frankfurt, se necessário, aprendendo sua língua e costumes e familiarizando-se com seu mundo, dando a conhecer Jesus como um Amigo real e amoroso? Ou precisam eles continuar a dançar em desespero?

Filhas da sombra. Ela estava com 16 anos e trabalhava na cidade havia um ano. Sua irmã de 14 anos trabalhava a seu lado. Ao conversarmos, ela me perguntou: “Se eu contrair AIDS, quanto tempo terei de vida?”

Seus pais as tinham vendido à prostituição. Agora estavam trabalhando num bordel de beira de estrada. A dona era bastante cortês (ofereceu-me chá), mas o trabalho era degradante e terrível. As chances de infecção eram enormes.

Ponderei sua condição de vida, olhei para seu rosto e lhe disse: “possivelmente dois anos”. Sua expressão de medo e desespero me perseguiu durante vários dias. Havia esperança, porém. A senhora me disse que se pudessem pagar a dívida de algum outro modo, ela concordava. Mas quem vai abrir uma pequena loja, ou prover empréstimo para máquinas de costura ou outra forma de trabalho que rendesse algo que as tirasse desse poço de desespero? A esperança precisa assumir uma forma prática para ser real.

Que faremos?

Muitas histórias parecidas de pobreza urbana, fome, falta de abrigo, misérias da infância, atrocidades políticas, horrores raciais e tribais em volta do mundo podiam ser narradas. Nesta área não há carência. Mas a questão real é: “Que faremos?” Há algo que você, como um estudante ou profissional adventista, possa fazer para continuar a jornada de compaixão que Jesus começou há muito? Eis alguns modos:

1. Envolva-se em atividades de pequenos grupos. Comece com três ou quatro pessoas que tenham algo em comum. Prometam servir a Jesus e considerem-se mutuamente responsáveis. Assumam uma tarefa e apóiem uns aos outros com oração e encorajamento. Envolvam-se em sua própria comunidade.

2. Inicie ministérios à porta da loja. Com o auxílio de alguns, comece seus serviços numa pequena sala na cidade. Limpe-a, empreste algumas cadeiras e hinários, use instrumentos portáteis, visite a vizinhança e comece um serviço religioso que satisfaça as necessidades da vizinhança.

3. Organize um ministério de grupo. Descubra que grupos a seu redor não têm uma igreja. O grupo consiste de pessoas que se identificam como “nós” pela língua, estilo de vida, ocupação, deficiência, etc. Um pastor que conheço abandonou o pastorado para trabalhar no hipódromo. A maioria dos funcionários mal se afasta menos de dois quilômetros da pista e não tem conexão com nenhuma igreja. Você poderá ter de aprender uma nova língua e comer comidas diferentes.

4. Organize um ministério de furgão. Ministério de furgão é o ideal para trabalho urbano, porque provê flexibilidade. Pode ser usado para prover alimento aos famintos, visita aos que vivem solitários, cura para os doentes e ministério para os carentes espirituais.

5. Comece um ministério de tutor. As crianças amiúde precisam de auxílio com suas lições. Nada lhes é mais útil e nada as guarda de artimanhas do que ter um tutor. Alfabetização de adultos ou ensinar o vernáculo a imigrantes recentes é outra parte desse trabalho que promove a dignidade de muitos na comunidade.

6. Inicie um trabalho de reabilitação de drogados. Trabalho difícil, mas necessário. Prepare-se para muitos fracassos aparentes. Alugue algumas salas se precisar. Faça disso um ministério espiritual, e não apenas um outro arrimo psicológico.

7. Comece um ministério com meninos de rua. As cidades estão cheias de meninos de rua, vagando sem destino e envolvendo-se em problemas. Descubra onde se encontram, torne-se amigo deles, ofereça-se para ajudá-los como tutor ou organize alguns jogos. Comece com programas de prevenção de drogas. Um estudante de música em Bucareste organiza os meninos num coral e tem realizado concertos públicos.

8. Inicie um trabalho de conscientização sobre AIDS. Torne os jovens conscientes do perigo de AIDS. Organize grupos de apoio e ofereça ministérios de cura aos doentes e suas famílias.

9. Associe-se aos Centros Adventistas de Assistência Social. Esses centros não são lugares onde as “senhoras idosas” se reúnem, mas devem se tornar centros de esperança, alegria e serviço, envolvendo a igreja toda, particularmente os jovens.

10. Apóie a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistencias. Seja um voluntário durante alguns meses, ou regular durante dois anos, torne-se um diretor regional ou um gerente de projetos. Procure uma nova carreira no campo de desenvolvimento, que transforme o mundo uma pessoa de cada vez e uma vila de cada vez. Se a ADRA não tiver vagas, há uma porção de outras Organizações Particulares de Voluntários fazendo coisas semelhantes, que precisam de seu auxílio para mudar o mundo.

11. Ministério pioneiro. Leve o evangelho a lugares onde nenhum cristão foi antes. Lance mão de seu preparo profissional e procure trabalho num país onde você possa viver e atuar como um cristão intencional, fazendo amigos, partilhando as boas novas sobre Jesus, fazendo discípulos e plantando igrejas. Sua igreja tem um programa designado para facilitar e treiná-lo para isto. Contate Global Partnerships na Universidade Andrews.

A igreja é importante. A congregação é um ótimo lugar para culto e celebração, para alimento e apoio. Mas a coisa mais importante que os cristãos fazem é fora das quatro paredes da igreja. Leve sua relação com Jesus a um mundo que precisa desesperadamente encontrá-Lo, e compreendê-Lo, a fim de ser amado e salvo por Ele.

Bruce Campbell Moyer (STD, Seminário Teológico de São Francisco) é diretor do Centro para Missão Global. Seu endereço: Andrews University; Berrien Springs, Michigan 49104; E.U.A. Fax: 616-471-6252.