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Enfrentando nossos gigantes: A questão não é se vamos enfrentá-los, mas onde, quando e como os enfrentaremos!

E le mede 2,25m, pesa 250 quilos e calça sapatos muito grandes. André, o Gigante, o empresário de espetáculos da Federação Mundial de Lutadores, tem uma aparência assustadora. O simples volume do homem, sua aparência altaneira, inspira terror nos corações daqueles que o desafiam no ringue de luta. Faça o que fizer, o desempenho de André, como é evidente no círculo de seus admiradores barulhentos, é grande entretenimento. E isso é tudo!

Mas os gigantes que enfrentamos são reais: gigantes filosóficos, educacionais, financeiros, pessoais ou profissionais. Eles invadem nosso horizonte, obscurecem-nos a visão, ameaçam-nos a estabilidade e põem em perigo nosso futuro.

Os gigantes que nos desafiam

Considere alguns dos gigantes filosóficos que desafiam o nosso modo de pensar e viver.

Um deles é o humanismo secular. Afirma que a humanidade é criadora e árbitro de seu próprio destino. Passeia pelas nossas universidades sob o disfarce da objetividade científica: “Abandone suas pressuposições religiosas e aceite os resultados ‘inquestionáveis’ do empirismo científico. Nada há de sobrenatural no mundo. Tudo o que vemos pode ser explicado por causa e efeito”. De início, este gigante parece invencível ao estudante adventista. Afinal, como desafiamos anos de darwinismo ferrenho com nada mais do que uma Bíblia aberta?

Outro gigante que enfrentamos é o relativismo moral. O gigante diz: “Moralidade é tudo o que satisfaz suas necessidades. Não há código moral absoluto. Faça qualquer coisa que o torne feliz”. Este gigante passeia pelas universidades sob o disfarce da descoberta estudantil. Reforçado pelo hedonismo do circuito de divertimentos do campus, ele seduz os jovens e os desassossegados, os solitários e isolados.

O materialismo é outro gigante opressor. Os estudantes são levados a ver os estudos não como o meio para um serviço maior, mas como meio de aquisição material. O carro, a casa, a indumentária fazem “a boa vida”.

Estes são apenas alguns dos gigantes que enfrentamos na vida, mas o fato a recordar é que não só haveremos de enfrentá-los, mas onde, quando e como os esfrentaremos! Talvez a história de Davi e seu gigante nos ajude um pouco.

Davi e seu gigante

Davi era apenas um pastorzinho, o mais jovem de uma família de oito filhos. Ele conhecia suas ovelhas. Conhecia sua harpa. Sabia cantar. Mas estava longe de ser um adversário digno de Golias — aquele gigante de 2,70m de altura, pesando possivelmente 400 quilos, um lutador desde a meninice, cujas ameaças belicosas deixava arrepiado o exército israelita. A armadura de bronze de Golias pesava cerca de 55 quilos — talvez mais do que o peso de Davi. Golias avultava no horizonte como um homem-montanha de tecnologia de combate.

Às vezes nós também precisamos enfrentar nossos Golias. O seu pode ser o Golias de abusos sofridos na infância. Ou o Golias de um casamento infeliz, ou de uma família destroçada. Ou pode ser o Golias de uma situação financeira que se deteriora, a perda prematura de um dos pais ou, pior ainda, a morte de um filho! Golias nos encontra quando os desafios excedem nossos recursos — quando somos superados e desarmados. Golias é real!

Em nome do Senhor

Golias se mostrava cada dia. Era o símbolo do poderio filisteu contra Israel. Todo dia, por 40 dias, ele se postava numa colina sobanceira ao acampamento dos israelitas e vociferava seu desafio. Israel se achava impotente. A mesma coisa sentia Saul. O nome de Jeová estava sendo blasfemado e desafiado.

Davi ouviu a blasfêmia. Viu o gigante. Propôs a Saul: “Quem é esse gigante que desafia os exércitos do Deus vivo? Vou atacá-lo”. Saul só podia ter dó do menino. Mas Davi tinha um currículo de coragem. Um leão. Um urso. E acima de tudo, o Espírito do Senhor. “Posso abater este filisteu incircunciso.”

A resposta de Davi nos diz onde enfrentar nossos gigantes — no ponto onde se cruzam a coragem e a competência. Coragem é um traço de liderança do qual todos precisamos. Coragem é a disposição de enfrentar nossos desafios sem medo. Competência é a habilidade necessária para vencer nossos gigantes. Coragem sem competência é bravata. Competência sem coragem é temeridade. Para enfrentar nossos gigantes precisamos de ambas. Nos desafios que se nos defrontam, precisamos ser tanto corajosos quanto competentes. Os gigantes do humanismo, relativismo e materialismo não podem derrotar nossa experiência pessoal com Deus! Precisamos mostrar como estas idéias são falidas, mas isso só pode ser feito sobre a plataforma de uma experiência viva com Deus.

Quando Davi diz: “Eu irei”, Saul o reveste de sua armadura real. Mas Davi diz: “Não posso andar com isto, pois nunca o experimentei”. Assim, livrou-se dela. Ele diz: “Só posso enfrentar o gigante com minha própria personalidade e estilo. Não posso ser você, ó rei. Preciso ser eu mesmo”. Aqui se revela como haveremos de enfrentar nossos gigantes — em segura autoconfiança.

Devemos estar seguros sobre o que oferecemos às pessoas que servimos. Somos adventistas do sétimo dia. Isso significa que temos uma forte herança religiosa que nos distingue do resto da sociedade. Embora devamos amar nossos amigos sem igreja, não somos chamados a imitá-los. A realidade de nosso chamado não nos faz melhores do que os outros. Quando encontramos nossos colegas, eles sabem que somos adventistas do sétimo dia e esperam que os sinais, símbolos, declarações e normas de nossa fé sejam visíveis. Em nossa luta contra os gigantes, questões de identidade precisam ser resolvidas de modo decidido.

De volta à história. O momento chega. O jovem Davi aproxima-se do filisteu. Golias olha com desdém para Davi: “Sou eu algum cão para vires a mim com paus?” Davi responde: “Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, venho a ti em nome do Senhor dos exércitos”.

Segurança primeiro

A declaração de Davi revela quando enfrentar nossos gigantes. Precisamos enfrentar nossos gigantes somente depois de nos assegurarmos de ter Deus conosco. Quando Golias aparece brandindo toda a sua tecnologia, nosso pequeno Davi corre em sua direção para enfrentá-lo. Este é o nosso pequeno Davi, que mais tarde dirá: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor”.

Este é nosso Davi, que mais tarde cantará: “Não te aflijas por causa dos malfeitores”.

Este é nosso Davi, que mais tarde afirma: “Confio no Senhor” porque “o Senhor é o meu pastor”.

Com a segurança inspirada pela presença de Deus, Davi corre na direção de Golias. Encontram-se no ringue central. Golias avança, incrédulo, vomitando maldições contra o pastorzinho. Golias amaldiçoa Davi “por todos os deuses que conhecia”1. As coisas provavelmente não parecem favoráveis para Davi. Muitos no arraial já planejavam o funeral de Davi.

Mas Deus escolheu a Davi. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Davia pega uma pedra em seu alforje, coloca-a na funda de couro, e avança em direção do poderoso gigante. Golias levanta seu capacete, furioso. Sem perda de tempo, Davi solta a pedra e ela corta o ar, enterrando-se na testa do filisteu. O filisteu dá uns passos para a frente, todo o seu corpo tremendo, como que invadido por um enxame de impulsos estranhos. Seu corpo em convulsão agora se enrijece ao cair ao chão. É este o homem que fez tremer os exércitos de Israel? É este o homem que desafiou os exércitos de Israel? Sim, este é o homem! Morto por um simples disparo da funda de um pastor. Subitamente um grito de vitória explode no arraial de Israel.

Enfrente-o!

Nunca me esquecerei de como minha falecida mãe enfrentou seu gigante. Lembro-me do dia em que ela me contou a história. Tínhamo-nos reunido no Oakwood College para a formatura de meu irmão mais jovem. Pediu-me que a levasse para um passeio no parque. Quando chegamos ao parque, ela disse que tinha algo que queria contar-me. E contou. “Les, fui ao médico outro dia e ele me disse que tinha uma novidade a me comunicar que não era boa. Explicou que o tumor no meu seio era canceroso. Assim, cuide-se e cuide de seu irmão menor”.

Quando ouvi a palavra canceroso não pude conter-me. Uma dor súbita apertou-me o coração, marejou meus olhos e rolou pela minha face. Nunca me olvidarei do que ela disse: “Les, não chore. Você sabe que não viemos aqui para ficar. O Senhor me deu uma boa vida. Disse que tudo estará bem. Um dia nos encontraremos no céu, e então nunca mais nos separaremos”.

Ellen White fala-nos de uma visão. Viu a igreja como um navio velho e cansado de viajar, indo ao encontro de um poderoso iceberg. A noite é fria, o iceberg é enorme, as águas são tenebrosas, os passageiros estão assustados. Então uma voz do céu diz: “Enfrentai-o!”.2

Esta é a palavra de Deus para você e para mim. Enfrente seus gigantes no ponto de interseção de coragem, competência e entrega. Enfrente-os com segurança e confiança. Enfrente-os depois de ter a certeza de que Deus está com você.

Leslie N. Pollard (D.Min., Claremont School of Theology) é o vice-presidente do escritório de diversidade da Universidade de Loma Linda. Seu endereço: Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92354; E.U.A.

Notas e referências

1.   Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, S. Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1995), pág. 647.

2.   White, ver Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), Livro I, pág. 205.


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