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Meio ambiente e os riscos à saúde

A Terra está em perigo. A vida achase sob o ataque de um novo e perigoso inimigo: a poluição ambiental criada pela incompetência sistemática na administração de nosso planeta. A ganância industrial dizima florestas tropicais; o constante e indiscriminado despejo de poluentes nos rios e oceanos destrói a fauna e a flora circunstantes. O aquecimento global altera o clima em todo o planeta. O excesso populacional sobrecarrega os recursos da biosfera.

Essas e outras notícias relacionadas ao meio ambiente estão constantemente na mídia. Mas, estamos nós conscientes dos fatores ambientais de pouca ou nenhuma notoriedade nos meios de comunicação, os quais afetam a vida em nossas casas, nos locais de trabalho, nas salas de aula, nos logradouros públicos? Consideremos o seguinte.

Ambiente doméstico

A maioria de nós passa grande parte de seu tempo em ambientes internos: dentro de casa, no trabalho, em viagens, nas salas de aula e fazendo compras. Mas, surge a pergunta: Como é que isso pode afetar a saúde ambiental? Já em 1986, um relatório da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos revelava que os níveis de poluição do ar dentro da maioria dos edifícios são, em geral, cinco vezes mais elevados do que no exterior.1 A Organização Mundial da Saúde calculava que 30% de todos os edifícios novos ou reformados sofriam da “síndrome do edifício doente” (veja na pág. 17).

Alguns dirão: “Vivemos num país subdesenvolvido e, portanto, não precisamos nos preocupar com os problemas associados aos modernos edifícios”. Todavia, nos países em desenvolvimento, os altos níveis de poluição do ar interior contribuem para várias infecções respiratórias agudas em crianças e adultos, e tais enfermidades resultam em cerca de 4,3 milhões de mortes por ano.2 Dentre todas as doenças endêmicas, incluindo a diarréia, as infecções respiratórias são a causa mais comum de males crônicos, e responsáveis por 34% da mortalidade em crianças de menos de cinco anos nos países em desenvolvimento.3

Na América Latina, África e Ásia, 40 a 60% de todo o combustível usado no preparo de alimentos têm sua origem na biomassa (madeira, esterco de vaca e vegetação). Usando combustível de biomassa, um fogão tradicional utiliza apenas de 5 a 15% da energia para cozer alimentos, enquanto que o restante é disperso em forma de calor e em grandes volumes de fumaça. Estudos demonstraram que casas que usam biomassa como combustível freqüentemente excedem em 20% o limite máximo da qualidade de ar recomendado pela Organização Mundial de Saúde. De fato, o nível de poluição doméstica amiúde supera o elevado nível de poluição aérea verificado nas maiores áreas metropolitanas do mundo. As pessoas mais afetadas pela fumaça de cozinha são as mulheres e as crianças, que tradicionalmente realizam mais de 90% das tarefas da casa.

Ambiente de trabalho

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 60 a 70% de homens e 30 a 60% de mulheres adultas trabalham fora de casa.4 Os locais de trabalho, mesmo em sociedades relativamente modernas, podem ser perigosos para a saúde. Mais de 100 milhões de casos de enfermidades relacionadas ao trabalho são relatadas no mundo inteiro cada ano. Uma pesquisa financiada pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional mostrou que nos Estados Unidos, em 1992, os custos diretos e indiretos de acidentes ocupacionais e enfermidades profissionais custaram 145 bilhões e 26 bilhões respectivamente.5

Outras enfermidades

Asma, enfermidade que afeta milhões, é uma desordem das vias respiratórias. Num ataque asmático agudo, os brônquios se contraem e impedem a livre passagem do ar. Essa condição resulta em considerável desconforto, quando não, em morte. Embora seja difícil obter dados em nível mundial, os relatórios de várias agências de saúde têm demonstrado que a asma e seu tratamento tornaram-se um problema sério em muitos países. Informações e dados colhidos nos Estados Unidos demonstram que a proporção de crises asmáticas entre crianças e jovens abaixo de 20 anos quase dobrou entre 1982 e 1991 (de 3 para 5%), enquanto que os índices de mortalidade por complicações asmáticas em indivíduos de 5 a 34 anos, teve aproximadamente o mesmo aumento.6

Embora um ataque de asma possa ser precipitado por exercícios, mudanças climáticas, alergias e outros agentes, um fator importante na incidência da moléstia é a exposição à fumaça do tabaco, a agentes de limpeza, ácaros, caspa animal e baratas.

O ambiente também contribui para a incidência de muitas doenças infecciosas. Os sanitaristas criam que muitas dessas doenças comuns seriam erradicadas por volta do final do século. Infelizmente elas estão retornando por causa da resistência orgânica a drogas e fatores ambientais. Um exemplo do que estamos dizendo é a malária. Há trinta anos, os sanitaristas acreditavam que essa enfermidade, transmitida por mosquitos e potencialmente fatal, seria logo coisa do passado. Contudo, devido a fatores ambientais, à resistência crescente dos mosquitos aos inseticidas e à reação negativa da malária aos medicamentos específicos, 55% da população mundial está exposta à moléstia. Essa enfermidade mata até 2% das crianças africanas, cada ano. Anualmente, 300 a 500 milhões de novos casos são relatados no mundo todo, com volumes de mortalidade de 1,5 a 3 milhões de pessoas.7

Outro exemplo de doença infecciosa relacionada ao ambiente e que continua a resistir ao controle, é a tuberculose (TB). A TB é causada por uma bactéria transmitida de indivíduo para indivíduo, através de gotículas lançadas ao ar por acessos de tosse ou espirros do enfermo. Se não tratada a tempo, a tuberculose pode ser debilitante e fatal. Aproximadamente um terço da população mundial tem TB e cerca de dois terços, nos países em desenvolvimento, são portadores de seu bacilo causador.8

Os índices de tuberculose são, com freqüência, mais elevados em ambientes onde há aglomeração de pessoas, a ventilação é deficiente e a luz solar fraca ou ausente.

Outras doenças ocorrentes em condições de pobreza incluem: hepatite, criptosporidiose, dengue, diarréia, encefalite e muitas outras. A migração e as viagens aéreas comuns aumentam a conexão ambiental, e assim, em bem pouco tempo, as doenças de natureza ambiental de uma parte do mundo podem atingir lugares distantes. A distância não mais provê imunidade.

Sim, nosso planeta está doente e os riscos ambientais e outras doenças produzidas pela poluição aérea podem nos atingir. Os governos, as organizações de saúde e as indústrias podem fazer muito para a solução do problema. Mas a pergunta é: O que devemos fazer como indivíduos? Eis uma lista simples de providências que estão ao nosso alcance.

Que podemos fazer?

1. Seja um bom administrador do meio ambiente. Esse é o primeiro princípio ecológico que aprendemos na Bíblia. O relato de Gênesis nos diz que Deus, depois de ter criado a Terra em toda sua beleza e perfeição, entregou-a ao homem “para a lavrar e guardar” (Gênesis 2:15). O Criador nos deu a Terra para o nosso bem e felicidade, para que nos propiciasse alimentos, beleza e campo de trabalho, e devemos cuidar dela como bons gerenciadores. Boa administração significa que não devemos explorar seus recursos descuidadamente, nem criarmos desequilíbrios ambientais que causem riscos à vida e à saúde.

2. Observe princípios sadios de higiene. A Bíblia provê bons exemplos de práticas sanitárias fundamentais. Levítico 15:2-12 instrui os indivíduos em contato com doenças contagiosas, que se lavem antes de se relacionarem com outras pessoas. Deuteronômio 23:14 fala da higiene pessoal e ambiental, porque o Senhor está sempre conosco. Diz Ellen White: “Perfeito asseio, luz solar, cuidadosa atenção às condições sanitárias em todos os detalhes da vida doméstica, são essenciais à prevenção das moléstias e ao contentamento e vigor dos moradores do lar.”9 A higiene pessoal é um dever cristão.

3. Use métodos de prevenção simples. O risco associado à maioria dos problemas ambientais pode ser diminuído por medidas básicas de prevenção. Funcionários da saúde pública aconselham que lavar as mãos com sabão e água reduz o risco de transmissão de muitas doenças contagiosas. Isso é particularmente importante para pais, pediatras, médicos e pessoas que lidam com alimentos.

Manter a casa limpa, por dentro e por fora, provê um ambiente saudável. Periodicamente, remova a poeira dos móveis e outras superfícies com pano úmido. Isso diminuirá o pó e eliminará partículas que possam provocar alergias ou episódios asmáticos.

Lave sua roupa de cama regularmente. A infectação por ácaros, que se alimentam de pele morta, aumenta o risco de contração de asma ou alergias. Lavar a roupa de cama e as fronhas, e expor os colchões e travesseiros à luz solar diminui a probabilidade de infectação.

Se você usa aspirador de pó dentro de casa ou está limpando o quarto, não se esqueça de abrir as janelas e portas. O excesso de pó ou os produtos químicos que produzem ou agravam alguma enfermidade, podem ser dispersos pela circulação abundante de ar fresco.

Limpe também os fogões à lenha e as lareiras. Os gases produzidos pela queima de biomassa podem causar problemas respiratórios. Uma boa chaminé diminuirá a concentração de fumaça.

Se sua casa tem um sistema de ventilação, inspecione-o com regularidade e troque os filtros periodicamente. Essa providência prevenirá que micróbios potencialmente patogênicos se instalem no sistema de ventilação, de onde podem se espalhar por toda a casa.

Instale telas nas janelas e portas para diminuir a entrada de insetos portadores de doenças.

4. Mantenha limpos os arredores de sua casa e o quintal livre de entulho, lixo e detritos que possam servir de coletores e armazenadores de água. Poças e a água de chuva que se acumula em pneus, peças de automóveis e mesmo gaiolas de pássaros não cuidadas, podem servir de terreno fértil à proliferação de mosquitos.

Se você possui um tanque no jardim, ponha nele peixes que se alimentem de insetos.

5. Desenvolva bons hábitos alimentares e técnicas saudáveis de cozimento. Cozinhe bem os alimentos, especialmente se você se utilizar de produtos animais. Alimentos contaminados com vírus e bactérias não se tornam saudáveis pelo simples aquecimento. As carnes cozidas devem estar isentas de qualquer traço de sangue. Mantenha os alimentos frios ou refrigerados a temperaturas apropriadas.

6. Faça com que seu lugar de trabalho seja seguro do ponto de vista ambiental. Examine-o para ver que riscos potenciais possam nele existir. Treine-se para reconhecer virtuais fatores de riscos. Muitas substâncias perigosas usadas podem ser substituídas por produtos mais baratos, menos tóxicos e igualmente efetivos. Tanto você como seu empregador ganharão, caso seja possível melhorar a segurança do ambiente de trabalho, e com economia ao mesmo tempo.

Informe-se

Descubra outras medidas que possam contribuir para a boa ambientalização do local; você pode promover um espaço de trabalho mais limpo e salutar mantendo-se bem-informado. A ecologia é uma ciência em contínua expansão. Certamente, você precisa buscar saber e fazer mais. Sites específicos da Internet provêem informação atualizada, confiável e útil sobre saúde ambiental e ocupacional. Aqui vão alguns deles:

Saúde Ambiental:

  • www.epa.gov (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos);
  • www.niehs.nih.gov (Instituto Na-cional de Ciências de Saúde Ambiental dos Estados Unidos);
  • www.who.int. (Organização Mun- dial de Saúde)

Saúde e Segurança do Trabalho:

  • www.aiha.org (Associação Americana de Higiene Industrial);
  • www.cdc.gov/niosh (Instituto Nacional para Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos).

 

Síndrome do edifício doente

Desde a crise do petróleo, na década de 70, os projetos arquitetônicos têm sido largamente influenciados pela necessidade da conservação de energia. Você pode facilmente identificar edifícios projetados para economizar energia pelas características da planta. As janelas de muitos modernos edifícios comerciais não se abrem nem se fecham, porque isso permitiria que o dispendioso ar condicionado escapasse. Esses prédios usualmente têm janelas coloridas para reduzir a luz ofuscante e minimizar o aquecimento causado pelos raios do Sol.

Edificações eficazes sob o ponto de vista energético podem contribuir para a “síndrome do edifício doente”. Os sintomas geralmente não se assemelham aos de nenhuma enfermidade em particular, e suas causas são difíceis de identificar. As pessoas que sofrem desse problema podem queixar-se de um ou mais destes sintomas: olhos, nariz ou garganta secos ou ardentes; espirros, obstrução ou defluxo nasal; sensação de fadiga ou letargia, dores de cabeça, tonturas, náuseas, irritabilidade e perda de memória. Má iluminação, ruídos, vibrações, desconforto térmico e estresse psicológico podem causar ou contribuir para o surgimento desses sintomas.

Esses problemas não obedecem a nenhuma seqüência peculiar. Nalguns casos, os funcionários experimentam problemas ao chegar a seus locais de trabalho, dificuldades que diminuem e até desaparecem ao deixarem o prédio. Noutros casos, os sintomas não se evidenciam até à tarde. Em outros casos ainda, há uma eclosão de enfermidades entre muitas pessoas num só edifício. Há quadros em que os sintomas aparecem somente em alguns indivíduos.

Os cientistas sugerem três razões principais para edifícios doentes:

  1. A presença de numerosas fontes de poluição aérea interna. Tipicamente, nenhuma delas por si mesma causa mal-estar a seus ocupantes. Na maior parte dos casos, diversos fatores se acumulam a tal ponto que certos indivíduos se sentem doentes ao passarem algum tempo no edifício. Algumas das fontes internas comuns incluem: fumaça de cigarro; formaldeídos de madeira compensada e de estofamento; emanações de tinta, adesivos e máquinas de copiar; mofo e bactérias provenientes de carpetes danificados pela água, madeira e outros materiais de construção.
  2. Sistemas de ventilação malplanejados e de manutenção deficiente. Talvez os contribuintes mais importantes para a “síndrome do edifício doente” sejam os sistemas de ventilação ruins ou inadequados. Quando bem planejados, eles provêem quantidades suficientes de ar fresco para cada escritório.
  3. O uso de um edifício para fins para os quais não foi planejado. A ocupação de um edifício freqüentemente muda com o tempo. O que era antes uma sala de aula é agora um laboratório úmido, e mais tarde poder-se-á tornar uma suíte de escritórios individuais. Cada uso pode ter sua aplicação e validade, mas os efeitos cumulativos sobre o ambiente precisam ser levados em conta, tomando-se em consideração a densidade de ocupação, bem como as atividades anteriores ou atuais.
     

 

David Dyjack (Ph.D., Michigan University) é professor associado e Diretor do Departamento de Saúde Ambiental e Ocupacional da Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda. Seu endereço: 1202 Nichol Hall; Loma Linda, Califórnia 92350; EUA. E-mail: ddyjack@sph.llu.edu Angela Bennett Dyjack (M.P.H., Loma Linda University) é professora assistente do Departamento de Saúde Ambiental e Ocupacional da Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda. Seu endereço; 1203 Nichol Hall; Loma linda, Califórnia 92350; EUA. E-mail: adyjack@sph.llu.edu

Notas e referências

1.   “The Total Assessment Methodology Study.” United States Environmental Protection Agency, Document No. EPA/600/S6-87/002, 1987.

2.   Daniel Kammen, “Energy as an Instrument for Socio-Economic Development,” United Nations Development Project, 1995, págs. 50-60.

3.   K. S. Lankinen, S. Bergstrom, P. H. Makela e M. Peltomaa, Health and Disease in Developing Countries (New York: The Macmillan Press Limited, 1984), págs. 281-286.

4.   “Global Strategy on Occupational Health for All,” World Health Organization, 1995, págs. 1-4.

5.   U.S. National Institute for Occupational Safety and Health, National Occupational Research Agenda: Update, July 1998, pág. 4.

6.   Robert Wallace, ed., Public Health and Preventive Medicine ( Stamford , Connecticut: Appleton and Lange, publisher, 1998) 14th edition, págs. 984, 985.

7.   Ibid., págs. 313-316.

8.   M.C. Raviglione, D.E. Snider, e A. Kochi, “Global Epidemiology of Tuberculosis: Morbidity and Mortality of a Worldwide Epidemic,” Journal of the American Medical Association, 273 (1995): 220-226.

9.   Ellen G. White, A Ciencia do Bom Viver (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1977), pág. 272.


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