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James Graves: Diálogo com um Juiz da Suprema Corte no Mississippi Audrey Stovall e Roy Brown
Juiz Graves, o que o conduziu à carreira jurídica? Eu desejava ter uma profissão que me permitisse realizar o máximo possível de mudanças na sociedade e prestar assistência às pessoas. Fale-nos sobre o que significa ser criado no Mississippi durante o período em que o sistema legal se opunha aos direitos civis dos negros, e agora ocupar a cadeira de juiz do supremo tribunal desse mesmo Estado. Isso é temível e inspira humildade. Motiva-me a trabalhar denodadamente porque para muitas pessoas no Mississippi significa muito que alguém como eu se assente na Suprema Corte do Estado, alguém que cresceu numa pequena cidade daqui e cursou uma faculdade local. Isso me incentiva a fazer o melhor que puder nesse trabalho. Já se sentiu como se estivesse colocado numa posição arriscada? Não sei se a chamaria arriscada. Penso ser uma posição onde, obviamente, há um tremendo quinhão de coisas a examinar por duas razões: (1) por ser a mais elevada corte neste Estado; e (2) por ser eu o único afro-americano a ocupar tal posição no tribunal. Mas não sei se ela seria mais arriscada para mim do que qualquer outra. É uma situação em que se tem grande poder e muita responsabilidade, e assim preciso ser cuidadoso e resoluto em tomar decisões nesta corte. Que casos lhe têm produzido mais impacto? Os criminais. Proferir sentenças temme sido a mais difícil decisão a fazer como juiz. Quando se pode atribuir a alguém de zero a 30 anos de prisão por venda de cocaína, por exemplo, o juiz literalmente tem a liberdade dessa pessoa nas mãos. Esse é um tremendo poder de decisão e não o considero de modo leviano. Como equilibra suas convicções religiosas com as responsabilidades como juiz do Supremo Tribunal? Não vejo conflito entre as duas coisas, nem como uma situação em que tenha de participar de uma com exclusão da outra. Não posso imaginar como realizar uma coisa sem a outra. A religião sempre se faz presente. O desejo de ser justo, de fazer a coisa certa, levando em conta o que é justo e moralmente correto. Essa é a oração que faço todos os dias para tomar as decisões certas pela razão certa. Não faço separação entre as duas coisas. O senhor encontra oportunidades de testemunhar de Jesus? O tempo todo. Não é tanto através da profissão, mas pelas oportunidades paralelas que se apresentam dentro da minha atividade. Há muitas oportunidades de testemunhar e falar sobre minhas convicções religiosas e fé em Cristo, e de como isso influencia o que faço. Torno as pessoas cientes de que nesses 10 anos em que sou juiz, nunca entrei na sala do tribunal sem primeiro cair sobre meus joelhos e orar. É importante que os adventistas e a igreja se manifestem em questões controversas como clonagem, pena de morte e segurança? Não sei se é tão importante manifestar- se quanto estar ciente dessas questões. Penso que, historicamente, os adventistas julgaram não ser importante participar do processo político. Isso simplesmente não está certo. À medida que um maior número de adventistas se envolver na política, é importante que outros adventistas também o façam. Nunca soube de um adventista que hesitasse em me chamar (quando eu advogava) numa circunstância em que um filho fosse detido, ou quando alguém fosse preso ou era necessário livrar-se de algum problema, ou ainda quando tinha uma consulta sobre um problema doméstico. Quando alguém morria e os herdeiros tinham dúvidas sobre testamento ou propriedade, eles me chamavam. Mas quando você está envolvido com a política, eles não se conscientizam disso, não sabem que você está concorrendo e não têm ciência de que precisam dar sua contribuição e votar. É importante que estejam conscientes, que participem, que sejam ativos. Não sei se precisam fazer pronunciamentos ou declarações públicas. Mas precisam estar cientes dos temas em debate e participar do processo político, porque a clonagem será, em parte, uma questão política. O Congresso irá elaborar e aprovar leis; tudo isso é política e importante. O senhor acha que sua posição agora irá criar uma nova cosmovisão para os adventistas, obrigando-os a considerar algumas das questões sociais e religiosas sob ótica diferente, e mesmo trazê-las à baila? Espero que isso ocorra. Se somente a posição e o que nela está implícito provocar reflexão e diálogo isso será bom. O que o senhor diz aos cristãos que crêem que suas disputas não deviam ser decididas numa corte de justiça? Ora! Francamente, eu gostaria que menos gente viesse ao tribunal para resolver suas disputas. Tenho visto casos em que membros de uma mesma família tentam resolver pendências em tribunais, as quais, em minha opinião, poderiam ser solucionadas durante um jantar. Obviamente, não concordo com a opinião de que as demandas nunca devem ser decididas em tribunal, “porque eu sou cristão e não creio nisso”. Há certas contendas que só são adequadamente resolvidas nos tribunais; para isso é que eles existem e é neles que essas disputas devem ser decididas. O irmão recebeu o Prêmio “Inovação” em 2000, por seus esforços pioneiros na criação das primeiras salas de tecnologia avançada nos tribunais do Estado do Mississippi, no estabelecimento do primeiro website para o Tribunal de Justiça do Estado do Mississippi, e na implementação do arquivo eletrônico de documentos do tribunal. Quais as vantagens de tais mudanças? Os julgamentos se processam mais rapidamente. São mais interessantes. Os advogados não precisam carregar aparelhos de TV e vídeo. Basta colocar uma foto de 3x4cm no aparelho e a imagem é projetada sobre uma tela parabólica de 4,5m. Essa é a forma mais eficiente e econômica de apresentar evidências a um corpo de jurados. O website do tribunal permite que as pessoas pesquisem informações que, de outro modo, teriam de ser obtidas do tribunal por via telefônica. Você acessa o website e as informações estão ali disponíveis em qualquer tempo, noite e dia. E existe a óbvia vantagem no arquivamento eletrônico de documentos, o qual lhe permite armazenar num CD o que doutro modo ocuparia uma caixa. Fóruns de todo o país têm ficado sem espaço para o arquivamento de documentos. No clima pós-11 de setembro, poderiam ser tomadas decisões para reduzir o movimento público, inclusive no que tange à freqüência à igreja? Creio que veremos, da parte de alguns, uma disposição de limitar certas liberdades civis e religiosas em nome da segurança e do antiterrorismo. E certamente haverá os que se disporão a renunciar a certas liberdades em nome da segurança. Creio que isso certamente se desenha no horizonte. Quão difícil o senhor acha que seria sua posição ao tomar algumas dessas decisões de um ponto de vista legal, em confronto com o religioso? Farei o que acredito ser certo, segundo a lei e as circunstâncias. Se houver alguma proibição constitucional, então terei de fazer valer a Constituição, que creio ser suficientemente abrangente para envolver um montante suficiente de liberdade religiosa e civil. Comenta-se que sente o maior orgulho por sua indicação como Pai do Ano pelo Distrito de Educação Pública de Jackson, no ano letivo de 2000-2001. O que o torna um pai tão destacado? Ser um bom pai sempre foi para mim de máxima importância. Uma vez que o último ano de meu filho na escola média seria também seu último ano em casa, era importante que eu lhe preparasse um jantar quando ele voltasse para casa, após ensaio da banda e outras atividades. Isso é ser um bom pai! Meu pai sempre foi bom e ainda é. Se eu pudesse ser apenas metade de um bom pai para meus filhos como ele foi para mim, então serei realmente um bom pai. A coisa mais importante que desejo que digam a meu respeito quando eu me for é que fui um bom pai para os meus filhos. Entrevista feita por Audrey Stovall e Roy Brown. Audrey Stovall é editora de uma universidade no Alabama. Seu e-mail: stovallay@hotmail.com. Roy Brown é apresentador do programa televisivo “Em Foco” e produtor de notícias para a NPR em Fort Myers, Flórida. Seu email: RBrown@fgcu.edu |