Marilyn Fargo: Diálogo com uma adventista especializada em conciliação

 

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:9)  

Muito poucos têm praticado as bem-aventuranças. Marilyn Fargo é uma exceção. Ela é especialista em educação para os Ministérios de Pacificação, e passa seu tempo solucionando conflitos e treinando outros pacificadores.

Marilyn freqüentou a escola de ensino fundamental e médio da igreja em Idaho, e foi para a Universidade Andrews onde cursou educação para o ensino fundamental. Posteriormente concluiu seu mestrado e fez um trabalho de pós-graduação em educação especial e aconselhamento. Na Andrews também conheceu seu marido, Mumtaz A. Fargo. O casal mudou-se para Utah, onde Mumtaz terminou seu Ph.D. na Universidade de Utah. Em 1968 se mudaram para o Estado de Montana, onde o Dr. Fargo lecionou na Montana State University em Billings, até sua recente aposentadoria.  

Além de lecionar e cuidar dos afazeres domésticos, Marilyn sempre esteve ativa na igreja local. Ela também tem aconselhado estudantes universitários e patrocinado grupos de estudos bíblicos em sua casa. Nos anos oitentas, ela ficou conhecendo os Ministérios de Pacificação com sede em Billings, Montana. O livro texto da organização, O Pacificador, de Ken Sande, acha-se disponível on-line no site http://hispeace.org.   

Hoje,   Marilyn e seu marido são Conciliadores Cristãos Credenciados, treinados pelos Ministérios de Pacificação. Sua meta é a prevenção ou solução de conflitos nos lares, nas escolas, igrejas, negócios e comunidades, através do princípio bíblico de conciliação.

 

Marilyn, para começar, diga-nos como você adquiriu essa paixão pela pacificação?  

Em 1982, Ken Sande, um jovem advogado cristão, foi desafiado a considerar a conciliação em lugar de litígio. Num grupo que estava estudando I Coríntios 6, ele percebeu que as igrejas cristãs não estavam seguindo o conselho de Paulo para solucionar os conflitos em suas congregações locais. A partir dessa percepção, ele deu início aos Ministérios de Pacificação.  

Eu assisti um dos seminários para pacificadores principiantes, e percebi como Deus, através de Sua Palavra, nos deu as ferramentas para vivermos em harmonia. Todos os nossos relacionamentos são beneficiados pelos princípios de pacificação. O treinamento para pacificador capacitou-me a admitir, lamentar e pedir perdão quando ofendo alguém.

Então, tanto você como seu esposo foram treinados para ser conciliadores.

Queríamos tratar de conflitos em todos os níveis, ao modo de Deus. Os Ministérios de Pacificação geram recursos e seminários para equipar os cristãos. Ao compartilharmos esses princípios bíblicos, precisávamos de treinamento avançado e interação com conciliadores cristãos profissionais. Sentíamos que Deus nos trouxera a Billings para essa experiência.  

Entendo que os Ministérios de Pacificação oferecem três níveis de treinamento.

Os seminários apresentam aos cristãos os princípios bíblicos e maneiras de lidar com conflitos. Esses seminários capacitam as pessoas para lidarem com conflitos em sua própria vida. Deus provê a tarefa de casa.   

O Treinamento Reconciliador fornece a informação e a experiência para ensinar os princípios na Escola Sabatina, nos pequenos grupos e nos sermões da igreja. Os reconciliadores compartilham recursos e podem mediar entre indivíduos usando o processo de Mateus 18:15-20.  

O Treinamento Avançado e o Programa de Certificação preparam os conciliadores para ajudarem a resolver disputas, abordar assuntos essenciais e restaurar relacionamentos. Cursos de aconsel-hamento bíblico e de direito civil fazem parte do treinamento e são utilizados durante o estágio ao vivo.   

Que tipo de treinamento precisam os líderes e membros da igreja solicitados a participar do processo?  

Estudamos processos e exemplos bíblicos com cada cliente ou grupo. A maioria conhece as referências bíblicas, mas não as têm aplicado na vida real. Todos os participantes assinam um compromisso de manter confidencialidade e ética cristã. O processo é específico e o Espírito Santo guia através das fases de aconsel-hamento -- exame, discussão e negociação. Se isso não solucionar a disputa, passamos a auxiliar nas respostas de mediação, arbitragem e disciplina eclesiástica para restaurar os relacionamentos rompidos.  

Um exemplo: Certo estudante de uma universidade secular precisa estudar uma disciplina cujas aulas caem no sábado. Ele verifica as opções e ora pedindo orientação. Então procura o consultor para saber sobre arranjos. Se não houver nenhum, o aluno pode buscar ajuda para negociar uma solução razoável, a fim de satisfazer as exigências acadêmicas e ainda guardar o sábado, tais como gravar a aula, conseguir anotações ou fazer um projeto. Um conciliador ora, aconselha e ajuda o aluno através de todo o processo.  

Outro exemplo: Um ancião de igreja é envolvido em um caso de adultério. Uma das partes   busca conciliação. Há oração, estudo da Bíblia, exame de documentos e um objetivo de glorificar a Deus, servir aos outros, e tornar-se mais semelhante a   Jesus. Esse processo mais complicado inclui aconselhamento, confissão, arrependimento, perdão e uma disciplina que redime. Com apoio e compreensão, relacionamentos podem ser restaurados, casamentos salvos e a comunidade de crentes fortalecida.   

Que tipo de casos você vê com mais freqüência?  

Por estar envolvida com o treinamento de jovens pacificadores, eu ministro treinamento para professores, pais, estudantes e igrejas. Dirijo também estágios para preparar outros como treinadores.  

Lido freqüentemente com comportamentos perturbadores de estudantes, ajudo as escolas elaborando regulamentos e processos a fim de promover a paz e relacionamentos positivos. Os Ministérios de Pacificação desenvolveram currículos de 2a a 6a séries e estão completando os de 7a   a 9a séries. Eu também trabalho com famílias que enfrentam divórcio, partilha de bens ou questões trabalhistas. Redigimos também cláusulas de conciliação para acordos contratuais.  

O seminário parece algo do qual poderíamos nos beneficiar. Ele é recomendado como ajuda em nossa vida particular?  

Exatamente. O seminário tem início com o conceito do "declive escorregadio", explicando como as pessoas reagem a conflitos com evasivas ou respostas agressivas. A Bíblia oferece soluções; começando com o relevar uma ofensa (Provérbios 19:11), através dos passos de Mateus 18:15-20, e terminando com a disciplina eclesiástica que redime, "tratando o ofensor como um descrente". Este último passo significa que a pessoa não "entendeu" e começamos tudo de novo.  

Diga-nos o que você quer dizer com conflito.

Definimos conflito como uma "diferença de opinião ou propósito que frustra outra pessoa", conforme está escrito em Tiago 4:1 e 2. O Espírito Santo convence do pecado (João 16:8) e uma pessoa em conflito perceberá que a paz genuína pode ser encontrada unicamente através de Jesus Cristo.   

Como você instrui pessoas sobre reconciliação numa congregação perturbada?  

Começamos com um seminário, convidamos todos os membros e exigimos que os líderes o assistam. Convidamos também pessoas que não freqüentam regularmente e ex-membros. Simultaneamente podemos também realizar um programa para Pacificadores Jovens. Então programamos entrevistas e incentivamos reconciliações através da mediação. Temos, normalmente, uma reunião da comissão para discutir a aplicação contínua dos princípios. Gostamos de terminar com uma "Celebração de Reconciliação" da família da igreja, que inclui a Santa Ceia. Faço um relatório espiritual detalhando o processo, escrevo uma lista de recomendações e me mantenho em contato durante o ano para apoiar e incentivar confiabilidade.  

Como a maioria das pessoas responde ao processo?  

Conheço igrejas e organizações que têm seminários de pacificação e pequenos grupos para treinamento dos membros. Elas incentivam a confissão, o arrependimento e o perdão para restaurar relacionamentos. Cada líder e membro é instado a um elevado grau de responsabilidade.  

Descobrimos que a maioria precisa de informação e orientação sobre esse processo, e os membros ficam agradecidos quando experimentam a paz divina nos relacionamentos. Os cristãos devem ser encorajados a levar conflitos não resolvidos à família da igreja.  

A pacificação tem também aspectos políticos. Como podem os cidadãos de qualquer lugar do mundo pôr esses princípios em prática em suas comunidades seculares?

Quando as pessoas estudam a maneira de Deus lidar com conflitos, imediatamente encontram oportunidades para abordar os assuntos. Miquéias 6:8 dá a resposta ao papel do cidadão cristão: "Praticar a justiça, amar a fidelidade e andar humildemente com o seu Deus". As guerras e conflitos no mundo tiveram suas raízes no ataque de Lúcifer contra o governo de Deus. Deus insiste que Seus seguidores busquem a paz. O modelo do Grande Conflito mostra como Deus lida com conflitos. Ele não abusou da Sua autoridade, mas ofereceu a reconciliação. Através de Cristo, Ele nos deu o ministério e a mensagem da reconciliação. Somos Seus embaixadores (II Coríntios 5:17-21).  

Os princípios da pacificação são essenciais em todos os aspectos da vida. Uma fonte comum de conflito é a rebelião contra a autoridade na igreja, no governo, na família ou no lugar de trabalho. Toda autoridade legítima foi estabelecida por Deus com a finalidade de manter a   paz e a ordem (Romanos 13:1-7). Quando uma pessoa em posição de autoridade ordena lhe fazer algo que você crê ser insensato, injusto ou pecaminoso, é apropriado fazer-lhe um apelo respeitoso e negociar soluções (Ester 7:1-6; Daniel 1:6-16).  

Para que nosso testemunho seja eficaz, devemos mostrar ao mundo algo que ele não possui. No Sermão do Monte, Jesus especificou as diferenças entre os mundanos encrenqueiros e os cristãos pacificadores. A Regra Áurea ainda é válida: "Façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam" (Mateus 7:12).  

Deveria a pacificação ser ensinada nas escolas adventistas?

Ensinar os estudantes a se respeitarem, trabalharem uns com os outros e se dedicarem a esses assuntos é fundamental para sua liderança. As escolas que estão começando a ensinar e implementar esses princípios estão sendo abençoadas.  

Creio que deveríamos oferecer em nossas faculdades e universidades mais treinamentos sobre resolução de conflitos mediante pacificação bíblica. A maioria dos formandos não tem as habilidades necessárias para lidar com conflitos inevitáveis que enfrentarão em suas profissões. Como resultado, temos pessoas que deixam o emprego, a localidade e até mesmo o ministério. Através desse treinamento aprendemos a evitar e solucionar questões como abuso, violência doméstica, adultério e divórcio. Sim, será uma boa coisa ensinar aos estudantes de nossas instituições o modo bíblico de resolução de conflitos.  

Muitos leitores de Diálogo podem estar interessados em ser pacificadores. Algum conselho mais?  

A paz é a essência do caráter divino e Ele a concede àqueles que O seguem. Paz diz respeito a trabalhar com o Espírito Santo e estar comprometido com a aplicação da Palavra de Deus às situações cotidianas. Aqueles que desejam trabalhar na solução de conflitos precisam manter comunhão diária e significativa com Deus e ter desejo e vontade de ajudar outros em situações problemáticas.  

Como os leitores interessados podem fazer contato com os Ministérios de Pacificação?

O endereço da sede é Peacemaker Ministries; 1537 Avenue D, Suite 352; Billings, MT 59102; telefone 406-256-1583. E-mail: mail@Hispeace.org.

Website http://www.HisPeace.org  

Meu endereço é P.O. Box 976; Sandpoint, ID 83854, EUA. Fone/fax: 208-263-2020.

E-mail: mafargo4peace@msn.com  

Entrevista concedida a Ella Rydzewski. Ella Rydzewski é assistente editorial da Adventist Review.