No tempo certo de Deus

Ira e frustração foram minhas reações quando atendi a chamada telefônica do corretor de imóveis. Quase pela vigésima vez, meu esposo e eu tivemos recusada a nossa proposta de compra de um imóvel que havíamos gostado; e dois anos já se haviam passado desde que começamos a procurar por uma casa. Creio que chegamos a visitar uma centena de casas desde o nosso retorno à cidade.

Tendo morado em arranha-céus em nosso campo missionário, estávamos determinados a encontrar uma casa com um grande quintal e vista para as montanhas ou um lago. Por essa razão, cada vez que olhávamos uma casa para comprar, nossa tendência era observar através das janelas para ver se havia alguma montanha no horizonte. Se pudéssemos vislumbrar uma montanha só, já seria suficiente. É verdade que visitamos casas localizadas no sopé de montanhas, mas o preço era muito elevado, ou nosso orçamento limitado, ou ainda as casas não correspondiam aos nossos critérios, ainda que oferecessem uma linda paisagem.

Então ocorreu outra decepção que nos frustrou sobremaneira. Ainda que fosse uma boa época para a compra de residências e houvesse prognósticos de que os preços baixariam, a aquisição continuava difícil. Muitas vezes pensávamos ter encontrado a casa ideal, e fazíamos uma proposta de compra, mas sempre havia outro comprador que superava nossa oferta. Nessas horas, eu clamava amargurada a Deus e O questionava: “Por que, Senhor? Tu não te importas com as minhas necessidades?”

Desesperados, estávamos quase desistindo quando aconteceu o inesperado. Sabendo de uma casa à venda, fomos até o endereço fornecido. Entretanto, outra casa com um cartaz “Vende-se”, situada na próxima rua, atraiu nossa atenção. Atrás dessa casa, a menos de um quilômetro de distância, havia uma cadeia de montanhas e no horizonte podíamos divisar outra linha de montanhas. Tínhamos nossa paisagem de montanhas em todos os ângulos. Compramos a casa, embora nossa proposta não fosse a mais elevada.

Agora, cada dia, quando nos deleitamos com o lindo panorama das montanhas e com o esplendor dos nasceres e pores-de-sol que se estampam nelas, ficamos maravilhados, pois procurávamos uma casa com vistas para uma montanha e Deus nos concedeu uma paisagem com uma cadeia de montanhas bem próxima. Certamente Deus ouviu nossas orações e ultrapassou nossas expectativas. Podemos olhar para trás e entender porque Ele permitiu que ficássemos desapontados ao fracassar na compra das outras casas. Isso não aconteceu porque Ele não Se importava conosco, mas porque tinha em mente uma casa que ultrapassava nossas expectativas e pedidos. Ele apenas necessitava realizar seus planos no tempo certo!

José: um novo caminho após uma longa espera

Depois dessa experiência, leio agora dois relatos bíblicos com uma nova compreensão. Primeiro, vejo o jovem José amarrado e vendido à caravana, sendo levado para longe da aprazível vida de um filho amado para a experiência de escravidão. Enquanto seus olhos angustiados percorriam as montanhas em busca de libertação, seus apelos de ajuda pareciam inúteis perante os céus. Engolido pelo desespero ele encountrou-se no Egito como un escravo de Potifar. O que ele podia fazer era apenas trabalhar duro para aliviar sua amargura. Seu senhor apreciou-lhe a diligência e lealdade, e elevou sua condição. Então, quando tudo estava indo bem, sua senhora preparou-lhe uma armadilha que colocou tudo a perder. José foi parar na prisão.

Na prisão, José continuou fiel a Deus, a Fonte de sua força, e fez o seu melhor naquelas circunstâncias. Então a libertação chegou de forma inesperada. Sua correta interpretação dos sonhos do padeiro e do copeiro concretizou-se na libertação do último. Seu único pedido foi que o copeiro intercedesse por ele junto a Faraó. Entretanto, os dias se passaram e nada aconteceu. Enquanto permanecia na prisão, em plena flor da idade, deve ter questionado muito os céus.

O que ocorreu depois? Fortes batidas na porta de sua cela. Os guardas vieram apressados. O temor o envolveu. Será que estaria sendo levado para a execução? José estava totalmente despreparado para as honras que se sucederam após ter ele interpretado os sonhos de Faraó. Enquanto andava nos carros reais como o segundo homem no comando do país, após Faraó, ele compreendeu porque Deus havia permitido que o copeiro tivesse uma amnésia temporária. Se ele houvesse falado a Faraó sobre José logo após sair da prisão, será que a interpretação do sonho de Faraó teria causado o impacto que provocou? Em sua sabedoria, Deus permitiu que José esperasse até que o plano divino pudesse ser realizado, de tal maneira que ultrapassasse as expectativas dos sonhos mais arrojados.

Moisés: tragédia e triunfo

Em seguida vejo o jovem príncipe Moisés com seu andar pomposo no palácio de Faraó, inspirado com a visão de uma missão que lhe havia sido designada desde a infância: a libertação de seu povo da escravidão do Egito. Infelizmente, levado por um zelo mal-direcionado, tomou uma atitude impulsiva que o levou ao deserto, bem longe do palácio. Em meio à frustração e desespero, construiu seu caminho entre as pedras do deserto, atrás de rebanhos de ovelhas balindo, em vez de em meio à multidão de israelitas que sonhou conduzir à liberdade. Olhando para as altas montanhas que o confinaram longe do mundo que havia conhecido, deve ter clamado: “Por que, ó Deus, Tu me abandonaste?”

Quarenta anos mais tarde, quando já estava resignado a passar o resto de sua vida como um humilde pastor no deserto, Deus o chamou da sarça ardente e expôs-lhe a missão: conduzir os israelitas para fora do Egito. Porém, sua longa estada no deserto destruiu-lhe a confiança na capacidade de cumprir a missão. Impelido por Deus e Sua promessa de ajuda, mais o apoio do irmão mais velho, ele aceitou o chamado.

No Egito, apesar da decepcionante rejeição inicial dos israelitas e dos obstáculos impostos pela inflexibilidade de Faraó, ele finalmente conseguiu realizar o grande e espetacular êxodo. Mas, que desgaste sofreu ele na dura tarefa de guiar essa multidão de pessoas rebeldes e obstinadas! O consolo foi grande quando finalmente chegaram às bordas de Canaã. Logo ele seria aliviado desse trabalho ingrato, mas, vencido pelo medo, o povo se recusou a avançar e tomar posse da terra prometida, e foi punido com a vagueação pelo deserto por 40 anos. Podemos ver Moisés clamando: “Por que, ó Deus?”

Quarenta anos se passaram e Moisés novamente se aproximou de Canaã. Uma vez mais seu sonho foi frustrado. Por um pequeno erro no cumprimento das ordens divinas em Cades, ele foi impedido novamente de entrar na terra prometida. Deveria ficar satisfeito apenas com um vislumbre da terra que manava leite e mel, do outro lado do Jordão. Sem se lamentar, Moisés submeteu-se à vontade divina. Que surpresa o aguardava quando acordou na Canaã celestial!

Salomão afirmou com muita propriedade: “A esperança que se adia faz o coração adoecer” (Provérbios 13:12). Entretanto, à luz de minha própria experiência e das de José e Moisés, gostaria de acrescentar que “a esperança que se adia” muitas vezes dá a Deus a oportunidade de realizar um plano muito melhor para nós. Tudo o que precisamos fazer é submeter-nos à Sua vontade e permitir que Ele realize Seus planos no tempo certo.

Mary H. T. Wong (Ph.D. pela Michigan State University) é professora de inglês e escritora free-lance; reside em San Jose, Califórnia, EUA.